A cegueira da governação


"Príncipes, Reis, Imperadores, Monarcas do Mundo: vedes a ruína dos vossos Reinos, vedes as aflições e misérias dos vossos vassalos, vedes as violências, vedes as opressões, vedes os tributos, vedes as pobrezas, vedes as fomes, vedes as guerras, vedes as mortes, vedes os cativeiros, vedes a assolação de tudo? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Príncipes, Eclesiásticos, grandes, maiores, supremos, e vós, ó Prelados, que estais em seu lugar: vedes as calamidades universais e particulares da Igreja, vedes os destroços da Fé, vedes o descaimento da Religião, vedes o desprezo das Leis Divinas, vedes o abuso do costumes, vedes os pecados públicos, vedes os escândalos, vedes as simonias, vedes os sacrilégios, vedes a falta da doutrina sã, vedes a condenação e perda de tantas almas, dentro e fora da Cristandade? Ou o vedes ou não o vedes. Se o vedes, como não o remediais, e se o não remediais, como o vedes? Estais cegos. Ministros da República, da Justiça, da Guerra, do Estado, do Mar, da Terra: vedes as obrigações que se descarregam sobre vosso cuidado, vedes o peso que carrega sobre vossas consciências, vedes as desatenções do governo, vedes as injustças, vedes os roubos, vedes os descaminhos, vedes os enredos, vedes as dilações, vedes os subornos, vedes as potências dos grandes e as vexações dos pequenos, vedes as lágrimas dos pobres, os clamores e gemidos de todos? Ou o vedes ou o não vedes. Se o vedes, como o não remediais? E se o não remediais, como o vedes? Estais cegos."

Padre António Vieira, in "Sermões"

Lenda de São Martinho

Martinho nasceu no ano de 316, em Sabária, actual Hungria, tendo recebido em jovem através de seu pai, soldado do exercito Romano, uma educação cristã.
Aos 15 anos Martinho foi para Itália e alistou-se no exercito Romano, tornando-se mais tarde general do exercito Romano.
Mais tarde, num dia em que regressava a casa debaixo de uma enorme tempestade, avistou ao longe um mendigo, cujo corpo quase se confundia com os troncos mirrados e enegrecidos. Este estendia os braços em busca de algum auxílio que o salvasse da morte quase certa.
Ao ver tamanha desgraça e miséria o General Romano comoveu-se. Apeou-se do cavalo e passou a mão carinhosamente pelo pobre homem, e de seguida retirou a sua capa quente e dividiu-a em dois, dando uma delas ao pobre mendigo para se aquecer.
Martinho lá continuou a sua viagem por mais três dias, dizendo a lenda que Deus comovido com a atitude fez parar a chuva e nos três dias seguintes o sol brilhou.